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MANIFESTO NADA

de António de Sousa Dias
e Alexandre Lyra Leite
a partir de Manifestos DADA
de Tristan Tzara

Lisboa, Estação de Metro do Cais do Sodré (happening), 17 Jan 2024
Odemira, 18 Nov 2023
Coimbra, 7 Jul 2023
Sintra, 4 Mar 2023
Lisboa, 30 Nov 2022
Vila F. Xira, 17 Fev a 5 Mar 2022

Ópera-manifesto contra e a favor de tudo e decididamente sobre nada. 

MANIFESTO NADA inspira-se no irreverente movimento DADA, que no início do séc. XX provocou rupturas na percepção da arte e inspirou inúmeros artistas e colectivos de vanguarda. Tristan Tzara, considerado o precursor do movimento Dadaísta, afirma claramente com a publicação do livro “Sete Manifestos Dada” (1924) a ruptura entre poesia tradicional e poesia dadaísta, numa atitude provocatória de desconstrução e negação de todas as convenções culturais, sociais, morais, estéticas e linguísticas.

A música de António de Sousa Dias propõe uma viagem possível neste universo, cortejando a desconstrução, flirtando com a colagem, namoriscando a irreverência, num piscar de olhos a diferentes expressões musicais contemporâneas ou próximas do movimento DADA e onde a lógica não é a regra.

Música António de Sousa Dias
Libreto e Encenação Alexandre Lyra Leite
Baritono Rui Baeta
Sopranos Joana Manuel e Célia Teixeira / Ana Sofia Ventura
Ensemble Fábio Oliveira (trompete), Philippe Trovão (sax tenor), Guilherme Reis / Gonçalo Rosado (contrabaixo), António de Sousa Dias (electrónica)

Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias, a partir de Tristan Tzara
happening, janeiro 2024
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Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias

© André Roma / Vítor Hugo Costa

Ficha Artística / Técnica

Música António de Sousa Dias
Manifestos DADA Tristan Tzara
Libreto e Encenação Alexandre Lyra Leite
Tradução Rita Leite
Barítono Rui Baeta
Soprano Joana Manuel
Soprano Célia Teixeira / Ana Sofia Ventura
Trompete Fábio Oliveira
Saxofone (tenor) Philippe Trovão
Contrabaixo Guilherme Reis / Gonçalo Rosado
Concepção visual Alexandre Lyra Leite e Rita Leite
Produção executiva Rita Leite
Direcção técnica Fernando Tavares
Assistência técnica Inês Maia
Design gráfico Rita Leite
Registo e edição vídeo Vítor Hugo Costa
Apoio à produção Susana Serralha
Produção Inestética companhia teatral
Projecto financiado por República Portuguesa – Cultura,
DGArtes, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
Apoios Arte Franca, Imarte, Metafilmes
Agradecimento Diogo Delgado

Récitas

Lisboa
Estação de Metro do Cais do Sodré, 17 Jan 2024 (happening)
Odemira
Cine-Teatro Camacho Costa, 18 Nov 2023
Coimbra
TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente, 7 Jul 2023
Sintra
Festival Periferias, Sociedade Filarmónica “Os Aliados”, 4 Mar 2023
Lisboa
Festival CRIASONS IV, Teatro Aberto, 30 Nov 2022
Vila Franca de Xira
Palácio do Sobralinho, 17 Fev a 5 Mar 2022 (estreia)

50 min | M/12

Foto de capa © João Duarte / TAGV

Manifesto Nada | Ópera de António de Sousa Dias
MEDIA

MANIFESTO NADA
por Rui Freitas
Artes&contextos, Março 2022

Se o dadaísmo ainda pode existir (e quanto faria falta algum dadaísmo aos nossos dias e costumes) António Sousa dias e Alexandre Lyra Leite incarnaram-no, e de forma primorosa passaram-no aos performers, que por sua vez o beberam e o vivem de uma forma notável nesta obra. 

O termo Manifesto, deriva do latim Manifestus, e é uma declaração de princípios e de intenções, geralmente de um grupo e até ao final do séc. XIX era exclusivamente político.
O Manifeste Dada (1918) de Tristan Tzara, tanto pode ser encarado como uma declaração estética, política, social, mas no fundo é tudo isto ou outra coisa qualquer e afirma-se desde logo contra os manifestos. 

“I write a manifesto and I want nothing, yet I say certain things, and in principle I am against manifestos, as I am also against principles.” Manifeste Dada, Tristan Tzara,1918

Os dadaístas pretenderam, provocar uma cambalhota espalhafatosa na sociedade e nos seus valores, sobretudo, mas não só, estéticos. 
Orientavam-se de acordo com um niilismo político e social e uma anarquia da arte, para combater a ordem estabelecida e os gostos burgueses; um dos principais objetivos de todas as suas criações e manifestações era chocar. Exaltavam o descrédito na humanidade, no sentido da vida, na individualidade (radical), na subserviência a sistemas de crenças e valores contraditórios. O dadaísmo, mais do que um movimento era uma atitude. A ideia de uma obra era mais importante do que o “objeto” final, a própria obra. 

A Arte Dada pretendia mais do que chocar, ofender, para não alimentar as ilusões de um propósito na vida. Pretendiam com a sua apologia do absurdo e do irracional, escrnecer e ridicularizar os sistemas e crenças que tentavam – diziam – justificar o propósito da vida, desde a religião ao amor, da cultura ao consumismo, do nacionalismo à família etc. 
Tzara dizia que se contradiria se não se contradissesse e o afirmasse também. 

Num cenário luminoso e limpo, sob um fresco floral no teto de uma sala do Palácio do Sobralinho, encontramos Rui Baeta e Joana Manuel, ao centro, estáticos como manequins e na penumbra os três músicos instrumentistas. Mais afastado do centro de cena, um mono coberto com um pano branco. 
Os dois líricos à boca de cena, acordam para começarem a desfiar o texto do Desgosto Dadaísta, com os instrumentos em cumplicidade a sublinhar a repetição da palavra Dada. Ou a dizê-la, na sua língua. 
Às duas vozes iniciais, junta-se a Célia Teixeira, que destapado o mono, era quem se encontrava por baixo da cobertura, e ora a declamarem, em tom coloquial ou exaltado, ora a cantarem desgarradamente ou em coro, e com o Rui Baeta a executar movimentos de dança desconcertados e patéticos, o Dada entrou. 

De entre as diversas leituras que se pode fazer dos textos dos manifestos Dada, nenhuma nos pode levar a encará-los como normais aos olhos do abençoado senso comum. Nesta dramatização, o encenador Alexandre Lyra Leite, escolheu o lado mais cómico e interpretou-o sem a mordacidade patente e velada no texto original, potencialmente sarcástico e até violento, conquanto irónico. 
O contexto instrumental de António de Sousa Dias, é tão irónico quanto brilhante e os três instrumentos, o trompete de Fábio Oliveira, o Tenor Sax de Philippe Trovão e o contrabaixo de Guilherme Reis são vozes que repetem com sarcasmo o que apregoam as vozes líricas e suportam as danças patéticas e os dislates do Rui, da Célia e da Joana. Fazem-lhe coro, dão-lhes ligação tanto quanto as dispersam e se dispersam, e também dizem de sua voz parecendo por vezes querer sair da performance para iniciar um percurso autónomo. 
Tal como os cantores/declamadores, fazem-no, tanto de uma forma monótona e monotónica, por vezes compassada e com laivos melódicos, outras gritando em desenhos sinuosos e imprevisíveis. 

O ambiente musical de Sousa Dias, sem perder nunca a identidade única e de conjunto passeia livremente, e tanto nos pode levar aos experimentalismos de John Cage ou Sun Ra, e aos desalinhos de Tom Waits quanto a Scott Joplin ou a um cabaret, talvez Cabaret Voltaire
Há momentos em que os três atores/cantores estão cada um no seu momento, independentes de tudo o que corre à sua volta e o caos vai impregnando a cena. De uma forma brilhante, o espetáculo decorre sinuosamente num todo falsamente desordenado, mas com o rigor ostensivamente caótico e pontualmente, ora cacofónico, ora melódico, onde a vocalização assume uma tonalidade quase sempre um patética. Um sorriso cínico, apalermado e plástico decora a face da Célia, cuja personagem assume por vezes o papel de um eco desconcertado e desconcertante das outras duas. 
Numa saída e reentrada a cena é enriquecida com uma gaiola de pássaro com uma pistola pendurada no interior e cuja base amovível se revela portadora de uma cábula para o Rui, e com pés de microfone com mãos modeláveis no lugar do micro, que a Joana usa para apontar o publico com ar sinistro. 

O dadaísmo cresce até ao fim e a linguagem ou as linguagens vão sofrendo transfigurações, sem, contudo, alguma vez se desagregarem ou perderem o todo, reencontrando-se, quase sempre arrastados pela cumplicidade instrumental. O manifesto vai sendo desfolhado em canto ou declamação, onde Baeta vai do patético ao solene e volta, ilustrado por danças grotescas e vocalizações espampanantes; e com conivência do instrumental ora redondo ora afiado. 
Após uma saída de cena, que poderia ser só mais uma de várias, segue-se um nada que confirma o fim da peça. Ou confirmaria, não fosse Dada o seu espírito, porque a seguir regressa a Joana descalça, com os sapatos na mão, para se dirigir a um espectador com uma lenga-lenga sem sentido sobre preços e câmbios disparatados. Saiu… 

Se o dadaísmo ainda pode existir (e quanto faria falta algum dadaísmo aos nossos dias e costumes) António Sousa dias e Alexandre Lyra Leite incarnaram-no, e de forma primorosa passaram-no aos performers, que por sua vez o beberam e o vivem de uma forma notável nesta obra. 
Ah… quando Rui Breda nos diz à boca de cena, com olhos arregalados e sorriso apalermado, “vós sois todos adoráveis”, não sei mesmo se neste contexto será prudente considerá-lo um elogio… 

Rui Freitas
Jornalista. Licenciado em Estudos Artísticos.

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“Um barítono, duas sopranos e três músicos de excelência dão alma, voz e corpo à desconstrução e à irreverência, à negação de todas as convenções, seguindo a lógica do absurdo. Em tempos insanos de indefinição e asfixia, a explosão DADA pacifica e alivia.
Em cena no Palácio do Sobralinho. A não perder.”
Clara de Barros, professora

“J’ai Adoré !!!! C’est absolument génial !!!
Bisous et félicitations à vous deux et à toute l’équipe !!!!”
Tatiana Spitzer, artista plástica

“Encantador e delicioso. Confirmo. Muitos parabéns a todos.”
David Santos, historiador de arte

“Adorei. Dada! Grande loucura! Da música aos músicos; dos cantores/actores, aos figurinos e encenação. Muito bom, divertido. O todo e o seu contrário. Grande espectáculo. Parabéns!”
João Vieira, guionista