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Laboratório de Coisas Inúteis

Arte Pública / Instalação
24 Jun a 4 Nov 2023
Vila F. Xira, Alhandra, Póvoa de Santa Iria
Catarina Gentil
Catarina Vilaça
Cláudia Simões
Rui Soares Costa
Tiago Leonardo
Curadoria
Alexandre Lyra Leite
Rui Soares Costa
Instalação 1
Caminho pedonal ribeirinho Alhandra-Vila F. Xira

untitled anthropocene 0,3 / 1 / 1,5 / 2 / 2,5 (rising series)
Rui Soares Costa

Laboratório de Coisas Inúteis

foto © Inestética

técnica mista
cantoneira de aço 50 x 50 x 5 mm
2023

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(a instalação encontra-se junto ao rio Tejo, a cerca de 40 metros da placa identificativa)

A peça untitled anthropocene resulta da combinação da memória das estruturas palafitas das comunidades ribeirinhas do Tejo, os Avieiros, com a problematização das consequências da ação humana em diversos dos sistemas do planeta, no que se poderá designar por uma nova época geológica, o Antropoceno. Orientam esta abordagem princípios como o da parcimónia, ou a ideia de um minimalismo conceptual. Filosoficamente, trata-se de uma correção, uma resposta ao Antropoceno. A instalação é constituída por múltiplos de cinco cantoneiras de aço que se oxidam e degradam com o passar do tempo. Cada uma das cinco cantoneiras tem a altura de cada um dos cenários utilizados pelo NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration – https://www.noaa.gov/) nos cinco modelos de projeção de subida do nível médio das águas do mar até 2100 (i.e., 0,3m, 1 m, 1,5m, 2m e 2,5m) em função de diferentes cenários de concentração de CO2 na atmosfera.

Rui Soares Costa estudou Pintura no Ar.Co, Lisboa, enquanto se licenciou, doutorou, fez pós-doutoramento e investigação em Psicologia Social e Neurociências Cognitivas entre Portugal e os EUA. Interessado em processos cognitivos como a memória de pessoas, trabalha desde 2013 exclusivamente como artista plástico. A sua prática e investigação focam-se na perceção e representação do tempo, mediante a sua suspensão, distensão e compressão. Trabalha com música contemporânea, sendo os seus projetos acompanhados por bandas sonoras originais. Atualmente tem-se focado em várias das consequências da Humanidade em diversos sistemas do planeta, das alterações climáticas e a subida do nível médio das águas do mar, ao Antropoceno. Promove no seu atelier as residências artísticas Bull’s Eye, por onde já passaram mais de cinco dezenas de artistas. Está representado em colecções em Portugal, Espanha, Alemanha, Índia, Holanda e Suíça. É representado pela Galeria das Salgadeiras, em Lisboa.

Instalação 2
Caminho pedonal ribeirinho Alhandra-Vila F. Xira

Do interior construída
Catarina Gentil

foto © Inestética

Estrutura em aço pintado
2023

“Como se constrói uma casa?
Uma casa constrói-se cuidando. De dentro para fora.
Aqui, ela aparece, impondo-se como se ali sempre pertencesse. Pronta.
Sente-se mexer, grande e leve, a afundar na terra com cada passo… cada gesto.
Um descer que é crescer.
Um afundar que é construir.
Não precisa paredes, portas, janelas ou telhado. Com o nada, sente-se o tudo.
A infinitude, escondida numa forma.
Uma casa…
Uma casa constrói-se varrendo. “

Catarina Gentil (1998) estudou Artes Plásticas, especialização em escultura, na Faculdade de Belas-artes do Porto (2016-2020). Foi estagiária no museu de arte moderna Peggy Guggenheim em Veneza (2021) e atualmente trabalha na RAMA em Torres Vedras. Desde 2019 que expõe regularmente o seu trabalho, contando com exposições no museu internacional de escultura contemporânea em Santo Tirso (2019), na Galeria Paços em Torres Vedras (2020) e na fundação D. Luís I, como finalista do prémio “A Arte Chegou Ao Colombo” (2023).
Acredita que fazer e partilhar arte é um processo de sentir, compreender e refletir as interligações entre o mundo, os outros, e nós próprios. Com um processo de trabalho sensível e intuitivo, parte de uma observação do mundo concentrada no pormenor e nas pequenas e belas normalidades da vida, para depois, criar e representar a beleza daquilo que é vasto. Do pormenor para o todo, pois é na dimensão do individual onde se encontra a experiência do coletivo.

Instalação 3
PARQUE URBANO DR. LUÍS CÉSAR PEREIRA, Vila F. Xira

Espaço Contentor: Para a democratização do quadrado imaginário
Tiago Leonardo

foto © Inestética

Estrutura de madeira, alcatifa industrial, caixa acrílica e polaroids
2023

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* Devido a ventos muito fortes e por uma questão de segurança, a instalação foi desmantelada 6 dias após a inauguração.

Em 1974, Fernando Calhau realizou um estudo para um vídeo que nunca se realizou, este intitula-se “Materialização de um quadrado imaginário”. Este quadrado foi desenhado no espaço à medida do corpo do próprio artista. Este meu espaço não figura uma perspetiva pessoal, mas sim uma construção comum, e, ao mesmo tempo individual e anónima.
Cada visitante tem uma participação activa na obra que se manifesta com a inserção, ou não, do seu retrato numa urna central da instalação, assim como com a sua experiencia com esse quadrado imaginário – sendo que este se pode entender como o que se vê para cima, a própria estrutura, o formato da urna, ou até mesmo o retrato.
É uma obra de arte pública que se reflete e se constrói a ela mesma, pensando a sua própria função e legitimação nesse espaço que a todos pertence. E, para pensar estas questões é preciso alguma forma de delimitação, um espaço contentor, que seja independente do restante sem deixar de lhe pertencer (como o Air de Paris).

Tiago Leonardo (2000) vive e trabalha em Lisboa. É licenciado em Ciências da Arte e do Património na FBAUL, e frequenta atualmente o mestrado em Estética e Estudos Artísticos (FCSH).
O seu trabalho tem-se concentrado no campo das imagens, onde olha para as especificidades – mais do que apenas da fotografia – da fotografia exposta, numa aproximação cada vez mais acentuada à pintura, sem nunca sair das problemáticas especificas do meio. O artista conta com a participação de residências como a GRÃO, da Quina das Relvas e no atelier RAMA, orientado por Paulo Brighenti e Ana Anacleto; foi finalista de prémios como a Mostra Nacional de Jovens Criadores 2022; e participou em diversas exposições coletivas, tais como: Roer o Risco I e II, Porto e Lisboa; Hammer-Time, Zaratan, Lisboa; e Agua Não-Controlada, Maceira; Hearts on Fire, Plato, Lisboa; Colabora ainda com diversas publicações, como a Umbigo Magazine e o Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa.

Instalação 4
Cais de Vila F. Xira, fábrica das palavras

Amarelo, vermelho e azul
Catarina Vilaça

vídeo © Catarina Vilaça

Vídeo-performance 
Floor graphic, formas em tecido, drone 
2023

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Amarelo, vermelho e azul é um espaço habitado por formas geométricas que interagem umas com as outras. Trata-se de um projeto artístico, mais precisamente uma obra com três variantes: um site-specific, uma performance e uma vídeo-performance. Acontece no pátio da Fábrica das Palavras, utilizando uma área específica: a entrada da rampa que leva ao topo das escadas. A obra, com inspiração nas formas geométricas do edifício, no artista Kandinsky e no ballet de Oskar Schlemmer, membro da Bauhaus, é composta por um autocolante que delimita a área visual que esta ocupa e peças tridimensionais que complementam a figura desenhada no mesmo. Perto do obra está presente um QR code onde será possível visualizar a vídeo-performance ao mesmo tempo que vê a performance e/ou a instalação.

foto © Inestética

Catarina Vilaça (1997). Artista plástica formada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2019/2020, tendo sido uma das finalistas do prémio de aquisição desse mesmo ano. Participou em diversas exposições, tanto individuais como coletivas, em diferentes cidades, algumas dessas incluem as exposições “valley + Vilaça” no Porto (2023), “Artis” em Seia (2021) e “Contextile” em Guimarães (2021). Foi uma das vencedoras do concurso “Viana Jovens com Talento 2020”, que financiou o projeto “Enco.bétular”, inaugurado em Viana do Castelo. Participou também em residências artísticas, nomeadamente na “Noite Viva” na Mealhada e na “Criatech” em Aveiro, ambas em 2021. Colaborou em projetos de animação, incluindo o filme “O Homem do Lixo” de Laura Gonçalves e a co-criação da série em stop motion “Medíocre”. Além da escultura, a sua prática artística abrange a instalação, performance, vídeo-performance, happenings e pintura, centrando-se na integração do público nas suas peças, muitas vezes assumindo um papel de ativação.

Instalação 5
PRAIA DOS PESCADORES, PÓVOA DE SANTA IRIA

Quando amanhecer
cláudia simões

foto © Inestética

antotipia sobre algodão
tecido de algodão cru com pigmento vegetal, estacas de pinho e corda de sisal
2023

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Um estuário é o local num rio onde as marés – manifestação direta dos astros sobre a orbe – são passíveis de se constatar. São a força do Céu sobre a Terra, e “No princípio criou Deus o céu e a terra” (Génesis, 1:1). Quando amanhecer surge a priori do conceito de origem, e vem a fundamentar-se na ideia de memória dissipada. Constituída por uma composição imagética formada a partir de cinquenta e cinco imagens, captadas da mesma perspetiva, no mesmo dia, entre as 16h47 e as 23h55, esta obra é como que um arquivo do próprio estuário, que é registado através de si, já que o pigmento usado para Antotipia foi feito a partir do lodo do próprio rio, colhido na Póvoa.
A morte não é um simples ponto final, mas um ponto zero da vida, onde começa.” – Byung Chul-Han in “Rostos da Morte”
Uma peça performativa na sua efemeridade, que irá gradualmente desvanecer-se a partir do momento em que for trazida novamente para a luz.
Somente no dia da apresentação será possível vê-la na sua plenitude.

vídeo © cláudia simões

Artista multidisciplinar oriunda de Sintra, licenciada e mestre pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em Arte Multimédia, na vertente de Fotografia (2019), e Crítica, Curadoria e Teorias de Arte (2023), respetivamente. O seu trabalho é descrito por si como uma constante relação com o mundo natural e, por conseguinte, espiritual. Assume as suas capacidades de superação e crescimento como intimamente conectadas às suas emoções, que estão, por sua vez, enraizadas à sua criatividade. Tenta, portanto, criar algo sempre através de um olhar contemplativo interior e exterior, atento, lento e apaixonado, onde uma abordagem sensível e cuidada transporta consigo o peso da sua própria existência e consciência. Articulando temas como luto, efémero, ausência, orgânico, imaterialidade, e entre outros, cláudia simões reconhece de forma eterna que “sem a Natureza, eu não era artista, pois é ela que me permite reconhecer-me, ver-me, e, depois, expressar-me em algo puro e genuíno”.

sobre o Laboratório de Coisas Inúteis

A discussão sobre a utilidade da arte tem produzido inúmeras reflexões, que expressam visões distintas sobre a relação dos artistas, estado e sociedade nas diferentes arquitecturas de criação e difusão artística.
Este laboratório de pesquisa, experimentação e criação de arte pública, destinado a jovens artistas até aos 30 anos, pretende fomentar a criação e a reflexão sobre as práticas artísticas contemporâneas e a sua relação com o contexto social, político e cultural, apostando na promoção do trabalho de artistas emergentes.
No decurso do laboratório foram concebidas 5 instalações “site-specific”, a apresentar no espaço público do concelho de Vila Franca de Xira, de Junho a Setembro de 2023.
Esta primeira edição tem curadoria de Alexandre Lyra Leite (director artístico da Inestética) e de Rui Soares Costa (curador convidado), artista plástico com formação transdisciplinar entre as ciências cognitivas e as artes visuais, que é também autor de uma das instalações.

organização / PRODUÇÃO

Inestética – Associação Cultural de Novas Ideias

LABORATÓRIO FINANCIADO POR

República Portuguesa – Cultura / DGArtes – Direção-Geral das Artes
Câmara Municipal de Vila Franca de Xira